E-tiqueta nas redes sociais

Princípios dos bons modos são reinventados no mundo virtual

 

 

Frederico Bottrel - Estado de Minas

Frederico Bottrel – Estado de Minas

Se a internet fosse mesmo rede mundial de computadores, como muita gente se refere a ela, seria mais fácil. Mas, com o avanço das mídias sociais, o ciberespaço revelou o que verdadeiramente é: rede de pessoas interconectadas. E pessoas, a gente sabe, podem, ou não, ser bem-educadas. Na era da curtição desenfreada no Facebook, das opiniões jogadas no ventilador no Twitter, fica a dica: boa educação não sai de moda, nem na internet. E entra em cena a reinvenção da arte dos bons modos, a e-tiqueta.

A ideia original do Facebook era traduzir, on-line, toda a vida social dos alunos de Harvard. Dos dormitórios da universidade americana em que foi criado em 2004, para o mercado mundial, hoje o site é o líder entre as redes sociais, com mais de 500 milhões de adeptos. O que chama a atenção é como o Facebook é “fofoqueiro”. Cada passo dos adeptos da rede é sistematicamente reportado para todos os seus contatos virtuais. O site vive de “manchetar” as banalidades das vidas alheias. Fulano curtiu isso, sicrano publicou tal foto, beltrano comentou não sei quê, esse outro está em tal lugar, aquele ali está te cutucando.

Na era da nova boca de Matilde, o conselho da consultora Cristina Gontijo, de Belo Horizonte, especialista em imagem pessoal e etiqueta, baseia-se na milenar sabedoria popular. “O mesmo remédio que cura mata. O segredo está na dose”, diz ela. Cristina lembra que se informar, manter os amigos em contato, se divertir, divulgar um negócio, fazer networking, se comunicar de forma dinâmica e virtual tudo isso é mesmo muito prático. Só não dá para perder a mão.

Do ponto de vista da imagem pessoal, ela orienta que as fotos escolhidas para ficar na parte de acesso irrestrito do perfil devem ser adequadas. Sutil demais o conceito? Gontijo esclarece: “Será que gostaríamos de ser vistos em trajes de banho ou de forma desarrumada por qualquer pessoa do planeta (isso inclui o chefe, empregado, pessoa interessada em fazer algum tipo de negócio), a qualquer hora e lugar podendo deixar esse material para ser copiado e usado onde quer que seja?”. Pausa para reflexão.

A linguagem também merece atenção. Para a especialista, a linguagem falada não é tão problemática quanto a escrita: “A primeira ainda tem a chance de cair no esquecimento, mas a segunda será marcada para sempre”. Por isso é bom ter cuidado com o que se escreve, o uso do português, o excesso de intimidade com pessoas desconhecidas. “Já na área dos grupos específicos poderemos utilizar os nossos cacoetes, gírias ou algo que temos costume de usar com determinadas pessoas”, recomenda.

A consultora de etiqueta chama, ainda, a atenção para o cuidado com assuntos sigilosos (“questões que dizem respeito ao ambiente empresarial jamais deveriam ser tratadas em uma rede social”) e com a improdutividade decorrente do hábito de passar horas interagindo virtualmente com o mundo (“o tempo gasto nas redes sociais deve ser observado, porque pode ser um vilão da falta de tempo do nosso dia a dia”).

E a superautoexposição é o principal dos problemas. “Há quem publique nome completo, endereço, estampe as relações de parentesco mais próximas, o nome do filho, onde ele estuda, a empresa em que trabalha, o que faz, tudo sem restrições”, diz. É o famoso “minha vida é um Facebook aberto”. Para a especialista, “esse conteúdo, até por questão de segurança pessoal, deveria estar disponível apenas para um grupo específico de amigos ou família, por exemplo, evitando práticas como sequestro relâmpago, extorsões, trotes ou outros”.

Gontijo observa que muitas vezes a rede social é usada para tratar de questões íntimas ou que não ficam adequadas publicamente, como “falar de uma briga que teve, provocar alguém e por aí vai”. Além disso, assuntos irrelevantes, do tipo “tomei banho”, “meu almoço estava divino”, “acordei com uma sensação diferente hoje”, podem, segundo ela, transmitir “uma mensagem inconsistente, estigmatizando quem escreveu”. Ah, se metade dos tuiteiros lessem este texto…

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